sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

23...










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23: ói nói aqui traveiz. Passando ao lado, ao largo. Querendo um lago largo para aprofundar. Afundar. Afrofundar. Heranças africana e indígena. Português por último: independência.

"Africa mãe do mundo". "Meu nome é Tupi". "Fado tropical". 

 

Aqui ainda não A.I. E aí? Não fiz o teste do Chat GPT ou similares. Sei que uma sequência lógica de palavras pode ser seguida para o entendimento de outrem. Ainda quero acreditar que as minhas sinapses, conexões, experiências, artificialidade nenhuma poderá reproduzir, a não ser meus próprios eus, correndo o risco de soar artificial, leviano, falso. A verdade jornalística precisa ser concisa e clara. Acordar cedo e ver jornalistas já apresentando jornais matutinos dá algum consolo por não ter ingressado na área e, dependendo, ter que acordar antes do galo. Peões de obra. Rotina de gado de fazenda. Depois da descoberta da eletricidade e da consequente instalação das luzes elétricas o horário comercial deveria ter sofrido ajustes. 

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Ao mesmo tempo em que a tecnologia só evolui, passageiros continuam apinhados em busões cedinho e à tardinha, agora com celulares do ano financiados e fones de ouvido bluetooth para passar o tempão que dura a viagem, mas diminutivos ou aumentativos não fazem diferença no cansaço diário de quem está na base da pirâmide do sistema capitalista, buscando o pão de cada dia enquanto na padaria a mais-valia recai em cima do padeiro. 


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De Assis acordava às 5h da madrugada para escrever. Redigia seus textos antes de ir para o trabalho na repartição. Era fitness do pincel (já que nem caneta havia). Escrevia à mão. Exercício. Também, não tinha distrações: rádio, televisão, vídeo-game, internet. Hoje é difícil se desconectar, e mesmo fora da rede mundial,  envolvemo-nos maratonando uma série, escolhendo filmes no controle remoto. Exercícios dos dedos. 

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Estou lendo George Orwell "Por que escrevo", no ínterim da vida ou da labuta para sobreviver, como canta Antunes no álbum Paradeiro "essa vida acontecendo às explícitas de tédio nos intervalos da emoção".


  

         

Achei que seria um livro sobre o ofício, mas constatei que é um livro político, e, portanto, escrever, como qualquer coisa na vida, é antes de tudo um ato político. Até quem se autodeclara apolítico está se expressando politicamente, e, mais ainda, sobretudo, sem erro, quem renega dessa forma a política vai para a direita ou extrema direita e tem ideias, atitudes e votos retrógrados, em candidatos extremistas e fascistas - como um ex-presidente recente. Orwell expõe no livro a situação da Inglaterra no que se refere à luta de classes; a visão conformista dos meios de comunicação sobre Hitler antes do início da Segunda Guerra Mundial, e de como o "Mercado", o liberalismo inglês na primeira metade do Século XX estava preocupado mais com o lucro do que com a segurança do país perante ameaças estrangeiras; também havia lá um ufanismo patriótico, um "espírito" de pertencimento ilusório, um laço que unia todas as pessoas simbolicamente a despeito das contas bancárias e classes sociais; é impressionante notar como muitas coisas são semelhantes com o Brasil pós-apocalipse, o país em reconstrução; é alarmante ver que muitas pessoas ainda permanecem cantando a mesma cantilena, como o Capital ainda se sobressai mesmo depois da derrocada alemã, e a imagem do murro em ponta de faca é explícita; a humanidade como grupo não aprende com os erros, ou os que comandam a humanidade e mexem as cordas das marionetes com suas fortunas transatlânticas. O futuro é no espaço, depois que tornarem lá habitável, habitando, até a extinção total.


 

Talvez a extinção venha antes, "ou o que ocorrer primeiro" (cláusula que rege certos contratos). Planetas, galáxias. No México mostraram imagens de seres "Não humanos" que eram iguaizinhos ao ET de Spielberg. Games futuristas anteveem possíveis futuros Cyberpunks, Starfields. As desenvolvedoras são falhas pois comandadas por humanos. Emoções sem sentimento de diálogos robotizados. 23. Já fui fã de simetrias. Tenho tendência. Nasci em um 22, talvez tenha um tanto de toc. "O tempo é rei, disso eu sei, o relógio não para".


 

Com o girar dos ponteiros, com o avanço da idade (ou pela predominância do signo lunar sobre o signo solar), além da tendência em grifar 11, 22, 33, passei a me afeiçoar por 12, 21, 23... Se a nota máxima é 5, 4 é acima da média; se a meta é 10, "nove e meio nem rola". Dez é número clássico do meio-campo cerebral. Pelé eternizou. Antes de ser eterno é preciso ser agora.


Uma eternidade vazia é se atirar num buraco negro se imobilizando no tempo-espaço. Precisamos preencher nossas lacunas com mantimentos indispensáveis, e pensar que escrever a própria vida é como escrever um romance de relevância social e psicológica. Diz-se que para alguém escrever algo que valha a pena tem primeiro de viver bastante, acumular experiências de vida, sendo possível algo significativo surgir só depois dos 40. Diz-se. Tem gente que vive 80 e não aprende nada. É como a liberdade valorizada só depois da sentença - que o diga os condenados pelos atos terroristas anti-democráticos praticados nos três poderes em 8 de janeiro de 23. Golpistas. Fascistas. Bater com luva de pelica não suaviza a força do golpe que pode ter conotação muito mais simbólica do que literal. E enquanto a AI não se meter no meio disso aqui eu vou "sendo como posso", usando e abusando dos sinais e dos signos, tentando não escrever tanta besteira, deixando para fazer besteira quando ela é bem-vinda, entre 4 paredes, mesmo depois dos 40 a chama queimará, até o toco da lenha, buscando jogar mais bem posicionado e não correndo tanto em campo, apreciando a textura da grama. Eu poderia estar falando de futebol... No final, no end, ou um pouco antes, ou no quase lá, no pré-climax, ainda quero poder cantar como Ice Cube:  "today was a good day...". "E será". Gonzaga Jr. Outro nascido em 22 do 9. Ele já morreu. Hoje dia 22, ano 23. Como o título do compacto de KL Jay "Estamos vivos", e vida que segue.



quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

22: patos imersos em lagos

 

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22: patos imersos em lagos. Quem paga? Já vi muitos pagando uma e logo após saírem gatinhos, miando fininho, filhinhos, correndo para debaixo das patas das suas mamãezinhas. Eu pago patos, mas só pito, solto fumaça pela boca e pelo nariz, louco sentado na linha do trem que é só de carga. Pesada. Não é só série. Pesos são em série. Medidas são descabidas. Descarga de energia quanto o momento é de pênalti, na loteria do "não é preparo, é sorte". Sem baixar a guarda; baixa na empresa individual, baixa nas relações sentimentais; nunca é bom se rebaixar demais querendo alguma atenção. Um pouco até vá lá. Baixeza em nível de alteza. Súplica súdita. Sarjeta. Gorjeta. Se abaixando para dar na mão do outro o que ele pede. Denota altura. Sem mendingar nada que não seja tesouro de realeza inglesa. Pra inglês ver. No fundo uma casa no campo bastaria. No campo, jogo inventado pelos ingleses onde a bola corre na grama. Na lama quando é dia de chuva na não virgem e vigorosa várzea de terra batida, ou abatida. Meses ditam passagem de tempo. Eu, por mim, permaneceria uma vida na estação Milton, em Outubro, escrevendo meu mural.


Meu mural é um muro sem moral, da história, sem as glórias alcançadas por todos que exibem-se, regalam-se, lambem-se, tão sem sal quanto comida para quem tem pressão alta, na panela, a pressão (sôlta), e a reviravolta do Dostoidiota é tão monótona quanto checagem do que chocou da pata choca: nota|: tornar-me poliglota só faria reviravoltas na minha própria língua à procura do que falta, da entonação agiota que rouba com o beiço e com a saliva a boa dicção emprestada (sólta). Larga, diacho, desse alho, desse dente, vá de rétro, deixa eu com minha retórica troglodita, retrô como a calça acima do umbigo do meu avô, vintage com vincos nas engomaduras, jogando palavras à revelia igual quem joga milhos aos pombos em praça pública, — púlpita para quem espera entidade ausente sentado em banco sujo de caca —, sem estouros, ou molhos nas aves transmissoras de doenças.  Tchau e bença pra quem pega um vírus tal fatal. O ar rarefeito é feito para que não enxerguemos nada e tateemos em escuro cinza-chumbo, peso do mundo a cada passo, cambaios no balaio do mé que fica doce mel para as formigas na boca do beudo que trupicar e ficar e dormir na rua com os dentes à mostra, (cavalo bão), inconscientemente com o cu que nessa hora é de ninguém na mão. Se me tiram me coloco à disposição, com disposição, menino bom que fica com sangue nos olhos, veias vermelhas saltando, o dente rangendo pra morder a jugular de quem tá de tiração comigo, molecote, fiote, não nasci onti e não vai ser hoje que vou pra casa com essa aporrinhação trespassada na guela. Ramela pra ver o que te acontece... No final é isso: falar um monte não significa estar deixando de ser omisso, mostrar não significa ter, e dizer não significa saber. Signos são significados. Verdades caladas no silêncio e nunca reveladas podem ser grandes sacadas, e volumes e quantidades são medidas que se diferem de qualidade por muitos palmos de distância em direção ao que se busca — não por buscadores de internet —, e as palmas que são recebidas podem ser a mais fria reação de quem quer esquentar a própria mão quando o que está condicionado é gelado, ou pelas costas a lufada é gélida, bélicos recursos de gente são incontáveis, inenarráveis, indubitáveis, e no fim, no fim mesmo, antes do end, a pergunta é: o que é o seu mural?



Meu mural é um jogo de cartas marcadas: Mais um ano passado. Passar pano ninguém passa. E nem deve. Completar mais uma primavera devendo também não é lucro. Trazer a primavera após um inverno quente dos diabos. Depois do inferno astral vem o céu astral ou será necessário ficar um tempo na Terra astral para aprender algo? Querer lucrar com investimentos, fazer o dinheiro “trabalhar para você” e não apenas trabalhar pelo dinheiro é uma questão para passar dos 40 e chegar aos 60 com algum bônus de sobrevida, para ter vida perto da morte. Ou longe. Existe a expectativa de vida média de brasileiros e brasileiras — elas vivendo mais que eles —, e há esperança de vida enquanto se vive (ou deveria existir a meta do existir pleno do que se é ou o alcance de si enquanto a centelha ainda está acesa). É preciso jogar o jogo enquanto o console está ligado, assumir o controle, o joystick, o manete, o manche, ser o timoneiro do próprio barco (se é game de pirata original e não de camelô; do camelo que se monta se o cenário é deserto; colocar água no cantil para encher a barra de energia). Muito tempo no jogo gasta energia pacas, cara, e o bonequinho, o personagem, o totem, também vai ficando cansado porque existe a defasagem das gerações, e os consoles vão se modernizando com o tempo, ganhando novas tecnologias e skills que para os mais antigos são impossíveis devido aos seus projetos de eras outras. Às vezes dá pra acompanhar capengando durante a fase de transição, mas chega uma hora que é game over. Nos fliperamas, onde era preciso fichas e geralmente o dinheiro era quase nulo, perdeu já era, ainda mais se o cara do lado fosse um viciado que apelava nos golpes ou nas jogadas ensaiadas. Coisa da antiga: salões cheios de máquinas de diversão para marmanjos alucinados, e até cinzeiro tinha em alguns, e fumaça de cigarro à vera. Muitos daqueles agora devem ser pais, ou colecionadores de velharias do passado. Aloe vera para a beleza e para a saúde, e tudo quanto for necessário para a velharia que quiser parecer nova no futuro. Depois de um tempo é preciso força pra levantar a bunda da cadeira e movimentar as pernas, fazer o sangue circular, tentar uma nova abordagem corpo-mente, já que o corpo com dor, diferente de um Condor, tende a cair. O tic-tac do ponteiro é a trilha sonora rotineira: sessões de comédia, românticas, suspense, terror, Science-fiction. Cada momento pode ser enquadrado em um estilo. Quando o alarme toca é sinal de que nova hora chegou, e com ela novas possibilidades, e o faz-tudo é roteirista, diretor, ator principal e em alguns instantes até figurante. Tipo filme. De volta aos jogos, diferente dos fliperamas, quando o videogame é de casa, caseiro, particular, pode-se reiniciar o jogo um sem-número de vezes, basta ter tempo e saco para tanto. O single player é rotina quando não está on-line. Estar on-line é rotina em tempos de pandemia. Ralhamos com a rotina. Ralamos nela, mas os ralados da pele são de esbarrões fora da rotina, da falta de atenção com o obstáculo à frente, ou lição para não bater mais, não querendo ser um eterno carro de bate-bate. É aquilo: comemora-se ao passar por uma fase difícil, mas se ainda não deu-se o final haverá outra ainda mais complicada depois, então não dá pra relaxar os músculos e baixar a guarda, no mínimo um respirar mais longo para tomar o ar necessário para o que vem, e o que vem é um ano sem tutorial de como passar, com todas as engrenagens novas que vão se apresentando dia após dia, portanto, pause até novo start.



De pauses em starts apertar botões dos comandos cotidianos com força, até queimar o dedo, até ser automático se queimar no próprio fogo e ser quem se é: O fogo que queima a pele da história. Difícil de digerir. Como carnes de animais pré-históricos antes da invenção do fogo. Querem supor problemas de gestão. Indigestão. Engolir seco. Seca. Quem vive no sul e sudeste é antes de tudo um forte quando toma coragem de ir tomar banho na madrugada congelante, no inverno — no inferno não tem esse problema porque lá é sempre quente, dizem. O Brasil é um inferno para branquelos europeus ou da América do Norte, e até para sulistas —, tem que ter um chuveiro bom, manutenção da energia elétrica, dos cabos e fios, da força que chega, porque se não a resistência queima. No norte do nosso país haja fogo no lombo, na carcaça. É raio UV que sobra e líquido que falta. Jogam água fria em escândalos calorosos e fazem um escarcéu em brasas de fósforos. Pra todo lado. Dois pesos. Pra todo lago dois peixes é par. Objetos não inflamáveis protegidos pelas unções de santos. Calores que veem de baixo e sobem pras ventas fazem seres ficarem despudorados, vermelhos, laranjas, marrons. Bombeiros desgovernados mal conseguem abrir um mero hidrante na rua, à frente da brigada. “Brigada!”, “De nada!”. Isqueiros queimam dedos quando a roldana de metal rugoso se aquece demais. Ademais, temos que regular a temperatura dos nossos corpos para não ficarmos doentes de febre. Delírios tremem. Delirium Tremens. Cachaça além da conta corrói os ossos. Quando ofícios são sofridos difícil mensurar. Ou na falta deles. Sob as ondas turvas do refluxo solar que sobe do chão se tem a impressão de ver um oásis em meio ao caos de palavras bolhas de água que pulam. Areia pode ser balela, mentira, historinha. Deserto é alvo de pesquisadores, historiadores, antropólogos. É preciso valorizar o que se tem; mesmo o mínimo grão que escorre pelas mãos. E renascer das cinzas, como Martinho, da Vila, ou do fogo, como Jean Grey e Ikki, de Fênix ambos.

















Imagem: Reprodução

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O que é a vida? A vida é sopro, mas eu toco cordas. Um pentagrama. Notas colocadas nas devidas linhas que lhe cabem por definição pensada ou inspiração surgida. Há sempre um ritornelo, símbolo de volta ao início. O fim do começo ou vice-versa, desde que o solo do primeiro tenor em choro convulsivo ou nem tanto se coaduna à sinfonia dos sons que foram se desenvolvendo e modificando partindo da primeira grande pausa/play, explosão de começo de áudio, de fim de silêncio. O silêncio é preciso para o som, o silêncio é precioso para o som. Uma segunda vinda seria postada e repostada uma, duas, várias vezes? Os seguidores de outras teorias que não aceitam nem a primeira vinda entrariam em timelines alheias para discutir se as trombetas do apocalipse que sopram seriam falsas, surto coletivo, coisa da imaginação, de Hollywood? Fim dos mundos reais. Apolipses-zumbis logados e ligados nas telas. Brilho de cegar o olhar com as vidas boas dos que podem tudo porque tem dinheiro a rodo, sem roubo, com postagens patrocinadas. Engodos. Até o mais bobo nascente já se acha o mais esperto, pois tem toda a sabedoria do mundo nas mãos. E como usa? E como usa! O fim próximo não é próspero e isto aqui é só um prólogo.



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domingo, 8 de agosto de 2021

20/21

 


Cato palavras como quem escolhe feijões. Catzo! Um poliglota translator que navega no mar da internet e pesca coisas aqui e acolá, às vezes boiando, noutras nadando de braçadas. Arriverderci forever. No saco, no pacote, na embalagem, grãos gastos, feios, alquebrados, batidos, em meio a sujeiras e até milho. Ajoelho-me em penitência assumindo erros de tradução dos sentimentos humanos que podem ou não ser transmitidos em fala, em escrita, e marco meus joelhos para lembrar que só precisa ser dito o que não pode mais calar, e que muito do que se diz poderia ter ficado preso na mente, nas barreiras do ponderável, inaudito. 

Já quis transcrever a fala para ser mais fácil. O gosto da palavra escrita é outro. Nem sempre o fácil é o correto. O concreto precisa ser bem batido para não se desmanchar com os solavancos das marés que chegam. Areia demais anuvia a visão cansada de quem já viu quase tudo desse mundo vil, mas que sabe que enquanto viver há sempre algo novo pra ver. É preciso lembrar-se de esquecer e esquecer-se de lembrar. Nem sempre tudo faz sentido. Se me sento é porque estou cansado. Se esqueço dum acento o corretor me lembra. Se me levanto e ando em círculos puxando pela mente uma palavra que fugiu pode ser que não a encontre nos arredores onde vivo e precise percorrer a vizinhança onde moro com a coleira dela em mãos, e, depois de muito andar sem rumo certo, dando voltas pelo quarteirão, perceba que a palavra estava ali, gravada na própria corrente, algo que fiz para me lembrar — caso esquece-se —, e que esqueci de me lembrar. E ela lambe-me a cara e me convida a passear balançando o rabo. “Palavras, essas cadelas”. 

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Quando ouço o que é dito pelo Sr. Inaudito penso no valor das palavras. Quanta putrefação sai de um esgoto sujo, imundo, hostil, maledicente. Ouvindo, o vocabulário iguala-se por osmose, e nos inserimos num filme nacional, brasileiro, onde sempre dão um jeito de colocar expressões como “merda”, “bosta”, “caralho”, “porra”, o que nesse caso quer dizer “como um ser pode estar dizendo uma baboseira dessa?”, “não acredito!”, “será que estou ouvindo bem?”. Pior é perceber que as palavras perdem o valor quando não surtem o efeito que deveriam como acima, e o que se percebe é uma diminuição do peso e das medidas, como se a bala só matasse quem acredita no tiro, e o atirador não teve a intenção de atirar, inúmeras vezes, em várias direções diferentes. Não há sala e cinema compatível com um público desse. 

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Ao invés de ver, assistir, leio. Releio. Releio. Todas as parcas palavras que por insistência delas, deveras, são transcritas em papel, em tela. Pudera. A maior parcela do escrevente quer deixar quieto o dedo calejado da escrita. No entanto, no tanto tudo que se passa rápido, randômico, pandêmico, a anemia de quem precisa de mais para comer e não só comida, traça o rastro da vida vadia das unhas que clicam em tecla para tirar todo o pó-poeira que há meses — mais de ano de 12 meses — permaneciam inertes, paradas no tempo como relógio parado, quebrado, que não bate bem da cuca, cuco caduco, e teias de aranha formavam-se em volta do seu bico guardado a sete chaves na portinhola por onde chorara as horas que não se abriam. Preso nesse enredo triste onde faltam pontas de agulhas para imunizar a contento, o descontente dá um pio sem saber ao certo pra quê nem pra quem, crente que sua alma seja salva por suas sete trombetas de bolso, as quais ele toca desafinado na cantilena do apocalipse tabagístico, que não mata logo e talvez nunca mate, talvez não por isso, mas por aquilo, ou falta daquilo, ou doutra coisa qualquer que pode ser enumerada de inúmeras formas já que é isso, it, coisa. 

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Precisava ler mais coisas de outros. Aqueles que já passaram pela terra e deixaram suas impressões, seus pisões de pé na calçada da fama das letras. Falta tempo, ou coragem, ou, no tempo que sobra falta coragem para ter tempo. Sobra falta de tempo, ou o tempo perdido com desmilinguidas peripécias que intentam dar menos peso ao ar, à cabeça, muleta Física que faça diminuir a força da gravidade faz ganhar tempo, mas tira tempo.  “Em verdade vos digo” que boniteza no trato não é fineza no conteúdo. Há quem fale feio e é feio por dentro e por fora (como temos visto no cenário político atual); palhaços de terno e gravata que só nos assustam quando aparecem na tela para qualquer pronunciamento descabido. Dá medo dessas coisas! Its. “It malia” é fala popular que pode amenizar por instantes sustos em 4K. Kkk. Riso de medo, mordendo os beiços, dentes semicerrados. Até porque três “kás” juntos não é signo do Clube do Bolinha. 

Girar, girar e voltar ao mesmo lugar. Talvez eu escreva menos por isso. Patino no português. Mesmo nas normas ortográficas acatadas no novo acordo desde 2009, quando uso e abuso das junções de letras que quero bato o cotovelo sem querer na mesa da gramática e o choque é forte, dói à vera. 

Sem base o edifício cai fácil. Tudo que digo pode ser cimento feito de areia de Naia. Não é de nada. Pra quem chega até aqui: obrigado! De nada! Se eu fosse um nadador jamais concorreria em uma olimpíada porque por muitas vezes perco o fôlego e fico boiando na imensidão. Certo é que em outras circunstâncias e ocasiões posso dar de braçadas em volta do planeta, por todos os mares. Maré de sorte para quem não é Mané, aquele que vive em terra plana, cercado de teorias conspiratórias, onde nem jogos olímpicos são ao vivo, são gravados, porque lá é de dia e aqui é noite. No Japão. Fui longe. Viajei. Volto pra minha ilha e espero pescar tubarões. Iscas: palavras, pontos, vírgulas. “Que que é o fim disso...”. Um texto de Dia dos Pais, no "nosso" país, sem pai nem mãe...